Ontem, 18, o auditório do Centro de Referencia Especializado de Assistência Social (CREAS) foi palco de mais um encontro para discutir a história das mulheres no Brasil, a violência contra a mulher, a busca pela igualdade de gênero, a cultura patriarcal, a diferença entre gênero e sexo e os motivos que levam o Brasil a ter uma norma específica para proteger as mulheres, a Lei Maria da Penha.
A atividade em questão era o “Mutirão de Informação, Formação e Cidadania” – projeto “As Mulheres dão as Cartas”. Cerca de 50 mulheres, que fazem parte do programa “Mulheres Mil”, participaram do encontro. “Desde crianças, começamos a sofrer a influência patriarcal em nossas vidas. E, com o passar dos anos, repetimos este modelo sem perceber nem pensar. É preciso rever estes conceitos que desigualizam, subjugam e desqualificam as mulheres”, comentou a secretária de Estado da Mulher, Olgamir Amancia.
Durante sua palestra, a secretária de Estado lembrou que a cultura patriarcal está enraizada no mundo, tendo começado antes mesmo de Cristo. “Até 1962, nosso Código Civil previa que, durante o casamento, compete o pátrio poder aos pais. Em caso de divergência, prevalecerá a decisão do pai. Somente em 1988, a Constituição Federal decretou a igualdade de direitos e obrigações para homens e mulheres”, lembrou.
Nesse sentido, ela explicou que estes e outros fatores foram que levaram o Brasil a criar uma lei que passasse a punir os agressores e, assim, mudar a cultura brasileira. “A violência contra a mulher é resultado de uma construção histórica — portanto, passível de desconstrução — que traz em sua base uma relação intimista com as categorias de gênero, sexismo, classe e raça/etnia e suas relações de poder”, frisou Olgamir Amancia.
Impressões – Hildete Moura de Souza, líder comunitária da cidade Estrutural disse que as palestras foram excelentes, pois a didática adotada permitiu que todas as participantes entendessem o processo de evolução das conquistas das mulheres e como a cultura patriarcal influencia o cotidiano das pessoas. “O trabalho da Secretaria da Mulher é grandioso. Sugiro que aproveitem para fazer uma campanha de valorização da mulher”, indicou a líder, pedindo que a SEM-DF retorne mais vezes à cidade, com mais palestras.
Este foi o 18º Mutirão realizado pela SEM-DF, sob coordenação da Subsecretaria de Políticas para as Mulheres. Cerca de 700 pessoas, entre trabalhadoras, donas de casa, professoras (es), estudantes, quilombolas e empresárias já participaras dos encontros somente no ano de 2013. O próximo “Mutirão de Informação, Formação e Cidadania” será no dia 25 de junho, a partir das 18h30, no Centro Educacional 7 do Gama.
Relatos – Nos mutirões, é comum ouvir o relato de mulheres que sofreram violência doméstica e familiar. Em muitos casos, elas aproveitam a oportunidade para servirem como exemplo para as demais que vivenciam o mesmo problema, estimulando que façam a denúncia, mecanismo fundamental para conter os índices de violência no Distrito Federal.
Foi o caso de V.C.L. que relatou ter sofrido violência doméstica do companheiro durante sete anos (dos 13 aos 21). “Casei a força e apanhei durante todos estes anos do meu ex-companheiro. Aos 21 anos, tinha cinco filhos e, quando fugi de casa, ainda estava no período do resguardo. Hoje, aos 58 anos, não consigo esquecer os momentos de tortura; são marcas que ficarão para sempre”, contou a dona de casa.
Olgamir Amancia lembra que as marcas deixadas pela violência doméstica e familiar são irreversíveis, em alguns casos. Por estes motivos, a Secretaria da Mulher oferece em seus equipamentos, como a Casa Abrigo e os Centros Especializados da Mulher (CRAMs) uma equipe multidisciplinar, formada por psicólogas, agentes sociais, pedagogas, entre outras, capaz de auxiliar as mulheres a recuperarem sua autoestima, refletindo na conquista da sua autonomia e emancipação.
“A sociedade também estar consciente sobre a sua responsabilidade ao não aceitar conviver com este tipo de violência. É fundamental a compreensão, por parte de toda a nação, de que os direitos das mulheres são direitos humanos, e que a modificação da cultura de subordinação, fixada em questões de gênero, requer uma ação conjugada, já que a violência contra a mulher desencadeia desequilíbrios nas ordens econômica, familiar e emocional”, finalizou Olgamir Amancia.