Elas venceram as barreiras do preconceito e se lançaram no ramo da construção civil, por meio do programa Mulheres na Construção
Em outubro deste ano, elas ingressaram em sala de aula com propósitos distintos, mas com uma característica em comum: são mulheres guerreiras. Após o processo seletivo, cerca de 200 mulheres iniciaram as aulas do programa Mulheres na Construção, uma iniciativa da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), em parceria com a Secretaria da Mulher, com o Instituto Federal de Brasília (IFB) e com o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF).
Ontem, 13, ela assistiram à última aula ministrada pela coordenadora de pesquisa de gênero da Secretaria da Mulher, Cláudia Afonso, – neste ano – que, entre outros temas, tratou da Lei Maria da Penha, história de condição e posição da mulher perante a sociedade, conquistas do universo feminino ao longo das décadas, noções de cidadania e direitos da mulher, direitos do trabalho, economia solidária e empreendedorismo.
A coordenadora da SEM-DF parabenizou as alunas pela perseverança, determinação e ousadia que tiveram e destacou que os conhecimentos compartilhados entre elas devem servir para que todas possam ser multiplicadoras de um dos ideais que a pasta busca: a construção de uma sociedade baseada na equidade de gênero. “Somente com a união de todas é que teremos condições de vencer o machismo, o patriarcalismo e o sexismo”, destacou Cláudia Afonso.
Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) feita em 2011 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mapeiam os setores da economia nos quais a presença feminina é raridade. Do total de trabalhadores na construção civil, 96,5% são homens. Na indústria, 64,6% da força de trabalho é masculina. No caso dos serviços industriais de unidade pública, eles representam 82,8% da mão de obra. Apenas as atividades do setor de serviços são ocupadas predominantemente por mulheres (52%).
No Distrito Federal, segundo o Sinduscon-DF, aproximadamente sete mil empregos na construção civil do Distrito Federal são ocupados por mulheres. O número equivale a 3% do total de pessoas que trabalham no ramo em várias regiões da capital do país. “A qualificação profissional é um dos caminhos para a emancipação e autonomia das mulheres. No setor da construção civil, estes valores assumem uma concepção ainda maior, tendo em vista que este é um ramo novo para a maioria das cursistas e que será conquistado e desbravado por elas, no projeto Mulheres na Construção”, acredita Olgamir Amancia, secretária de Estado da Mulher.
A aluna e empregada doméstica Deusirene Bezerra Glavão, 49 anos, enfrenta uma jornada tripla para terminar o curso e realizar o seu grande sonho. Pela manhã, trabalha em uma casa no Lago Norte; à tarde, frequenta as aulas do programa Mulheres na Construção; e à noite, faz curso de empreendedorismo. “Meu sonho é ter uma pousada. No curso que faço pelo Sebrae, saberei administrar meu negócio e, como pintora de obras, terei a chance de pintar minha pensão sempre que considerar necessário. De quebra, ainda vou economizar um pouco”, relatou, aos risos, a determinada aluna.
A artesã Anirene Pereira sai da Cidade Ocidental de segunda a quinta-feira às 11h para chegar ao campus do IFB em Samambaia antes do início da aula, às 14h. “Enfrento algumas dificuldades para conseguir estar aqui todos os dias. Mas sei que esta é a minha grande oportunidade de mudar de vida; será por meio do ingresso no mercado da construção civil que terei condições de fornecer uma vida mais digna e confortável para os meus filhos e netos”, espera a jovem senhora.