Foram oito anos de relacionamento até que Luísa* se desse conta de que o companheiro abusava psicologicamente dela com frequência. Os ataques constantes, mesmo após a separação, levaram a professora à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (DEAM), da Asa Sul.
Ao ser atendida na DEAM, Luísa conseguiu uma medida protetiva e foi encaminhada para acolhimento no CEAM (Centro Especializado de Atendimento à Mulher), da Secretaria da Mulher. Lá, recebeu acompanhamento multidisciplinar que a ajudou a enxergar, e a tratar, os danos psicológico causados pelo relacionamento tóxico.
A professora decidiu terminar o relacionamento quando percebeu o ciclo de abuso que vivia. A lista de episódios é imensa. Ao longo dos anos, Luísa descobriu traições do ex-companheiro. Ele negava e ainda a acusava de “louca”. Depois, o homem passava a agir de maneira controladora e ciumenta, alegando que era ela quem o traía. Para manipulá-la e fazê-la se sentir culpada, ele apontava defeitos em qualquer comportamento da mulher, fazendo com que ela se sentisse inferior e insuficiente todo o tempo.
“Ele me manipulou tanto que, realmente, cheguei a acreditar que eu era a agressora. Fui procurar ajuda pela primeira vez porque achei que eu estava fazendo mal a ele e que precisava de ajuda psiquiátrica.”, desabafa a professora.
A hora em que o companheiro chegava do trabalho tornou-se gatilho para ansiedade e para aflição: qualquer coisa poderia ser motivo de ataques de fúria e de brigas. Luísa passou até a conferir as gavetas da cozinha, verificando se tudo estava bem organizado e em seu devido lugar, só para evitar confrontos. “Eu não tinha paz! Até hoje, dois anos depois da separação, qualquer situação, por menor que seja, me deixa ansiosa e com medo”, conta.
O ex ameaçava a ficar com a guarda no filho do casal, na época, um menino de apenas 7 anos. Até o dia em que ele prometeu matá-la. Era a gota d´água. Luísa decidiu pedir ajuda da polícia e registrou queixa. Na delegacia, ela já foi encaminhada para os serviços de acolhimento da Secretaria da Mulher. “O Estado me acolheu desde o início e continuou me amparando, como mulher e como mãe. Esse apoio me salvou”, garante.
Encaminhada ao Centro Especializado de Atendimento à Mulher, a professora descobriu que os abusos cometidos pelo ex-marido tiveram muitas consequências. As agressões não deixaram marcas físicas, mas causaram muitos danos à saúde mental de Luísa.
A equipe de especialistas disse que ela sofria de transtorno de estresse pós-traumático, incluindo o medo de se relacionar e a falta de vontade de fazer atividades rotineiras, um diagnóstico comum a diversas vítimas de violência psicológica e física. São síndromes que causam flashbacks, pesadelos e recordações dos momentos mais traumáticos, apatia, distanciamento emocional e afastamento de amigos e de familiares.
Muitas vezes, como no caso de Luísa, a manipulação é tanta, que a vítima nem percebe o que está acontecendo e, realmente, acredita ser a culpada por todos os problemas, brigas e desentendimentos do relacionamento.
Para que haja uma recuperação, é preciso um acompanhamento multidisciplinar que garanta a segurança física, psicológica e jurídica da mulher. É aí que entra o trabalho da equipe dos CEAMs, oferecendo todo o apoio necessário, buscando reconstruir e fortalecer a autoestima, a autonomia e o resgate da cidadania das mulheres.
Luísa foi acolhida no equipamento da Secretaria da Mulher por mais de um ano. Mês passado, teve alta e faz questão de reforçar a importância do apoio que recebeu: “O atendimento oferecido pelo CEAM é muito importante, principalmente quando a vítima ainda está desorientada e em choque, porque a ajuda a ter consciência do abuso. Enquanto a mulher não tem consciência do que está vivendo, não consegue se livrar da situação.”