Depoimentos expressam sentimento de dor, tristeza e revolta
Brasília (20/03/2013) – Os casos de assédio sexual no transporte coletivo são mais frequentes do que se imagina. Basta dar uma passada na Rodoviária do Plano Piloto e conversar com as mulheres que se aglomeram na fila dos ônibus. As histórias são muitas. Na sexta-feira (14), as repórteres Carolina Sales e Ana Carolina Dinardo, da Assessoria de Comunicação (Ascom) da Secretaria da Mulher, estiveram no local. Em pouco mais de uma hora, ouviram inúmeros relatos de mulheres que admitiram ter sido vítimas de assédio. Elas contaram o que sofreram e, mais, falaram sobre o sentimento de dor, tristeza e revolta que isso traz. Leia, a seguir, alguns desses depoimentos.
“Já sofri inúmeros assédios nos ônibus que circulam no DF. Como moro próximo à EPTG, pego ônibus de várias linhas que passam pela via. Nos horários de pico, eles estão sempre lotados. Da última vez, mesmo sentada, um rapaz, em pé, começou a roçar o seu órgão genital no meu corpo. Me afastei ao ponto de ter de ficar praticamente com o corpo colado ao da pessoa que sentava ao meu lado, próximo da janela. Guardo o sentimento de nojo e a sensação de impunidade, pois todo mundo viu e ninguém fez nada.”
M.V.S., 26 anos, fotógrafa, moradora de Vicente Pires
“Já sofri assédio sexual nos ônibus várias vezes. Na última vez, ainda morava no Gama. Peguei um ônibus para Taguatinga. No trajeto, um homem ficou se encostando em mim. Enojada com a situação, desci num ponto que nem era o meu. Achei melhor assim. Isso é um problema antigo. É comum ouvir relatos de outras mulheres.”
R.O.P, 51 anos, dona de casa, moradora de Santa Maria
“Estava a caminho da escola, dentro de um circular da L2 Sul, quando o rapaz ao meu lado passou a se esfregar em mim. Perguntei qual era a intenção dele e começamos a discutir. No momento em que ameacei ligar para a polícia, ele deu sinal e desceu na parada seguinte. Vi que outras pessoas perceberam o fato, mas todas ficaram paradas, apenas assistindo à discussão. Senti-me muito mal. É horrível ser desrespeitada, ainda mais nesta situação.”
I.A, 28 anos, vendedora, moradora de São Sebastião
“Estava sentada no banco do ônibus, a caminho de casa, depois de um dia de trabalho. Nessa época, morava em Ceilândia. De repente, percebi que um militar estava esfregando o corpo dele no meu. Senti vergonha e medo. Me afastei ao máximo. Como o ônibus estava cheio, tive que aguentar esse constrangimento até chegar ao local da descida. Nem sei se outras pessoas perceberam. Foi horrível.”
M.N, 42 anos, dona de casa, moradora da Vendinha
“Constantemente, sou vítima de assédio no ônibus e no metrô. Os homens aproveitam-se da lotação para abusar da gente. No metrô, geralmente, mudo de vagão quando ocorre isso. Acho que falta informação para as mulheres fazerem a denúncia. Acredito que essa campanha pode ajudar a diminuir ou coibir esse tipo de abuso que ocorre diariamente”.
T.R, 31 anos, secretária, moradora de Samambaia Sul
“Como sou cobradora, já presenciei muitas cenas de assédio sexual a mulheres no interior dos ônibus. Lamentavelmente, as mulheres não costumam denunciar o assediador. Ficam com medo, sentem-se envergonhadas, como se elas fossem as culpadas e não as vítimas. Uma campanha de orientação para a denúncia pode mudar essa situação.”
M.F.F, 48 anos, cobradora de ônibus, moradora de Samambaia
“Dias atrás, fui à UnB fazer uns procedimentos antes de começar as aulas. Peguei um ônibus da linha Grande Circular e sentei-me em um banco paralelo ao corredor. Logo depois, entrou um rapaz e ficou perto de mim, em pé. A toda hora, ele jogava seu corpo sobre o meu, buscando se encostar em mim. Ao chegar na minha parada, pedi licença para descer. Em vez de deixar eu passar e sentar no banco, ele me seguiu no interior do ônibus até a porta de saída. Como não dava para alcançar o botão de parada, pedi que ele acionasse para mim. Ele me perguntou, então, o que eu daria em troca. Respondi que não daria nada, pois estava pedindo apenas uma gentileza. Ele respondeu que não precisaria pagar naquela hora, poderia pagar depois, de outra forma, insinuando uma relação sexual. Fiquei desesperada, sai de perto dele, consegui acionar o botão de parada e desci correndo. Senti-me com medo, envergonhada e impotente. O que me deixou mais indignada foi que várias pessoas viram e não fizeram nada.”
A.L.P, 22 anos, estudante, moradora da Asa Norte
“Viajo sempre no horário em que os ônibus circulam lotados, no sentido Cidade Ocidental-Brasília. Certa vez, o homem ficou atrás de mim e, a todo momento, encostava seu corpo no meu. Tentava me afastar, mas não encontrava mais espaço. Sofri esse assédio até chegar à Rodoviária do Plano Piloto, onde trabalho numa loja. Não denunciei porque não sabia que tratava-se de crime ou algo assim”.
A.S., 29 anos, operadora de caixa, moradora do Jardim ABC, Cidade Ocidental (GO)
Ascom SEM/DF
3961-1782 e 3425-4779