Tânia Fontenele ouviu repreensões quando apresentou às 50 pioneiras seu projeto intitulado Mulheres invisíveis. Ouviu da maioria: “Nós não somos invisíveis não. Fomos muito atuantes”. Decidiu então mudar o nome do projeto, que virou Poeira & batom. A ideia da invisibilidade surgiu com a vontade de contar histórias das primeiras mulheres que desembarcaram no Planalto Central quando Brasília era apenas um canteiro de obras.
A intenção era abordar a história a partir das perspectivas femininas das personagens. A saga brasiliense já foi muitas vezes contada por homens e Tânia sentia falta da palavra das pioneiras. Entrevistou então 50 mulheres com o cuidado de diversificar ao máximo a origem de cada uma, de maneira a obter as mais variadas perspectivas. O resultado rendeu o livro Poeira & Batom, uma mescla de textos históricos sobre a construção da capital e depoimentos das pioneiras, cujas fotografias ilustram exposição homônima a ser exposta a partir de amanhã, 10, no Museu Nacional dos Correios.
Tânia escolheu 50 mulheres para homenagear as cinco décadas de aniversário da cidade. As entrevistas, realizadas em estúdio, foram editadas em um filme de 60 minutos que acompanha o livro e cujos trechos serão apresentados durante a exposição.
Tânia Fontenele descobriu que, de 1956 a 1960, muitas trouxeram as filhas, crianças de colo ou na primeira infância que também assistiram o surgimento de Brasília e poderiam acrescentar a perspectiva infantil da vida em um canteiro de obras de uma cidade utópica. Algumas dessas filhas passaram a fazer parte do projeto. “A gente optou por uma linha do tempo, por contar a história até o golpe militar (de 1964). Obviamente, sabemos que há marcos históricos, mas demos prioridade aos depoimentos. Procuramos interferir o mínimo”, conta ela.
No livro, os marcos históricos são citados para, em seguida, serem comentados por cada entrevistada. “Queríamos delas a sensação de pessoas que estavam modificando o ambiente no qual estavam inseridas. Tem a visão oficial e a visão delas”, diz Mônica Ferreira, que é economista e quer transformar as histórias em uma peça de teatro.
Há pioneiras autoras de relatos já bastante conhecidos, como Palmerinda Donato, a cineasta Maria Coeli, a pianista Neusa França e Lya Sayão, mas houve uma preocupação em narrar histórias inéditas de médicas, lavadeiras, enfermeiras, comerciantes, agricultoras, professoras e até de uma funcionária de boate.
Poeira & batom – Exposição com coordenação e curadoria de Tânia Fontenele. Visitação de 10 de abril a 2 de junho, de terça a sexta-feira, das 10h às 19h. Sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h, no Museu Nacional dos Correios (SCS – Setor Comercial Sul, Qd. 4, Bl A, nº 256).
Com informações do Correio Braziliense